Por
Hermes C. Fernandes
Está marcada para hoje a estreia da nova novela das 9 na Rede Globo de
Televisão. Imagino a tensão que deve envolver o lançamento de uma novela
para substituir um fenômeno como foi “Avenida Brasil”. Não bastasse
isso, eis que surge nas redes sociais uma campanha de boicote ao
folhetim. De acordo com os promotores da campanha, o título da novela
seria um insulto aos evangélicos, pois implicaria numa invocação a Ogum,
entidade venerada por cultos afro-brasileiros, que graças ao
sincretismo, é identificada com Jorge da Capadócia, ou simplesmente, São
Jorge, santo da devoção católica. Alguns chegam a sugerir que assistir a
“Salve Jorge” poderia atrair maldições.
Em se tratando de marketing, creio que Rede Globo deu um tiro no pé. Não
dá pra prescindir da audiência de 40 milhões de evangélicos. A Rede
Record agradece!
É claro que alguns pastores se aproveitarão para tentar incrementar a
frequência dos seus cultos, abalada nas últimas semanas de “Avenida
Brasil”. Nada mais eficaz do que usar o medo para coibir que os crentes
deem audiência à nova novela.
Prefiro ficar fora deste tipo de campanha, por entender que qualquer que
seja nossa postura, deve ser fruto de uma consciência bem resolvida e
não de um boicote idiota, bem ao estilo do promovidos pelos crentes
americanos aos produtos da Disney. Isso revela o grau de imaturidade e
alienação em que a igreja brasileira se encontra.
Quem imagina que isso seja um fenômeno recente no cristianismo, deve
checar suas fontes. A igreja em Colossos sofreu o assédio deste tipo de
fundamentalismo. Paulo, como defensor da liberdade cristã, combateu-o
ferozmente. “Tende cuidado”, adverte o apóstolo, “para que ninguém vos
faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a
tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo
Cristo”. E argumenta: “Se estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos
do mundo, por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis
no mundo, como: Não toques, não proves, não manuseies? (estou certo de
que se fosse hoje, ele incluiria “não assistas”). Todas essas coisas
estão destinadas ao desaparecimento pelo uso, porque são baseadas em
preceitos e ensinamentos dos homens. Têm, na verdade, aparência de
sabedoria, em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com
o corpo, mas não têm valor algum contra a satisfação da carne”
(Cl.2:8,20-23).
Ninguém tem o direito de meter-se na vida privada do seu semelhante,
prescrevendo o que deve ou não ser assistido, consumido, ouvido, etc.
Cada qual deve avaliar por si mesmo. Para isso, temos recebido o
Espírito Santo de Deus.
Se eu estiver em casa, e a novela estiver sendo exibida, nada me impede
de parar e assisti-la. Se chegar alguém na hora, não vou trocar de
canal. “Pois por que há de a minha liberdade ser julgada pela
consciência de outrem?” (1 Coríntios 10:29). Foi para a liberdade que
Cristo nos libertou!
Caso eu resolva não assistir, terei minhas próprias razões. Não será por
medo de maldição. Nem por boicote que serve aos interesses da emissora
concorrente. Não sou obrigado a assistir, tampouco obrigado a não
assistir. Minha consciência que decidirá.
Quanto ao título do folhetim, não me causa qualquer mal-estar. Basta
conhecer um pouco a história de Jorge da Capadócia para se dar conta de
quem foi um homem temente a Deus, que morreu por amor ao Evangelho e por
posicionar-se contrário à idolatria.
Também não estimulo ninguém a ausentar-se do culto para assistir a
qualquer que seja a novela, seriado, filme, ou mesmo, algum programa
evangélico. O culto ao Senhor é insubstituível. Quem se banqueteia com o
Senhor jamais vai trocar o pão que vem do céu por um prato de lentilhas
azedas.
Um povo bem alicerçado na Palavra saberá ver de tudo, retendo somente o
que for bom. Somos pastores, não xerifes ou censores. Nosso papel é
ensinar e ser exemplos, não policiar e cercear a liberdade daqueles que
nos foram confiados.
Hermes Fernandes não dá refresco para legalista e nem poupa hipócrita.
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